21 janeiro 2012

a.d. IX Kal Feb (24 de Janeiro)

Die nono ante Kalendas Februarias

ou

Ante diem nonum Kalendas Februarias
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TPC

fulgida stella (estrela brilhante)

N fulgida stella fulgidae stellae
V fulgida stella fulgidae stellae
Ac fulgidam stellam fulgidas stellas
G fulgidae stellae fulgidarum stellarum
D fulgidae stellae fulgidis stellis
Ab fulgida stella fulgidis stellis

Nota:
stella -- estrela
stela -- estela

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uenusta puella (linda menina)

N uenusta puella uenustae puellae
V uenusta puella uenustae puellae
Ac uenustam puellam uenustas puellas
G uenustae puellae uenustarum puellarum
D uenustae puellae uenustis puellis
Ab uenusta puella uenustis puellis

Notas:

a) uenusta -- linda -- vem do nome da deusa Venus

b) puella vem da forma masculina, puer, seguida do sufixo feminino -la, através da assimilação completa regressiva do r pelo l

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Efeméride:
Assassinato de Gaio Júlio César Germânico (Caligula), no ano 41, por membros da sua Guarda Pretoriana que nesse mesmo dia aclamam Imperador o seu tio Cláudio.

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Verbos


Em Latim, pode referir-se pela os verbos pelo infinitivo ou pela primeira pessoa do singular do presente do indicativo. Nos dicionários usa-se sempre a segunda forma.

Exemplos:
Sum (sou) -- ser, estar, existir
Do (dou) -- dar
Amo (amo) -- amar

Em Latim, como em Francês e Inglês, os verbos enunciam-se. A enunciação de um verbo é a lista dos seus  tempos primitivos, que dão origem, através de desinências, a todos os outros.

Os tempos primitivos ou, melhor, as formas primitivas do Latim são:
A primeira e a segunda pessoas do singular do presente do indicativo, o infinitivo, a primeira pessoa do singular do pretérito perfeito e o supino.

O verbo sum enuncia-se:
sum, es, esse, fui  (excepcionalmente, não existe o supino do verbo)

Presente do indicativo:
sum
es
est
sumus 
estis 
sunt


As várias pessoas deste tempo provêm das duas primeiras (as da enunciação) através das desinências: 

_m su_m
_s  es_s (como em Latim não há consoantes finais dobradas, um dos "s" caiu)
_t es_t
_mus su_mus
_tis es_tis
_nt su_nt

















As desinências da primeira pessoa do singular do presente do indicativo só podem ser
*_m ou *_o





Exemplos:
sum (ser); possum (poder); praesum (comandar)
amo (amar); video (ver); do (dar)

Exemplos de frases:
puella pulchra est            (a menina é bonita)
puellae pulchrae sunt      (as meninas são bonitas)
puella, pulchra es            (menina, és bonita)
puellae, pulchrae sunt      (meninas, sois bonitas)

Atenção! pulchra está no nominativo: nome predicativo do sujeito

Nota:
Em Latim não há plural de deferência.
Por exemplo, a frase litúrgica Ora pro nobis, habitualmente traduzida por "Rogai por nós", corresponde literalmente a "Roga por nós"

Vocabulário:
serua -- escrava
cerua -- corça (de onde provém o topónimo Cerveira, via Ceruaria)
fida (fidus, fida, fidum) -- fiel
do (do, das dare, dedi, datum) -- dar
scribo (scribo, scribis, scribere, scripsi, scriptum) -- escrever

Notas:
a) O supino (literalmente "deitado", "adormecido") é uma forma verbal a que não corresponde tempo ou modo definido. Dele deriva sempre o particípio passado.
Exemplo: o particípio passado do verbo do é:
datus, data, datum  (masc, fem. neutro no singular)
dati, datae, data (masc, fem. neutro no plural)
O particípio passado tem todas as características de um adjectivo  (particípio passado = adjectivo verbal).


b) O verbo do, da primeira conjugação (tema em a), tem por presente do indicativo:
do
das
dat
damus
datis
dant


Exemplos de frases:
serua pulchrae puellae fida est -- a escrava é fiel à menina bonita
(nom    dat           dat    nom)
seruae pulchris puellis fidae sunt -- as escravas são fieis às meninas bonitas

Notas gerais:
a) estis não tem nada a ver com a forma "sois" do português (e do castelhano); já o francês "êtes" deriva directamente de estis.

b) a palavra latina caput tem uma descendência variadíssima:
cabeça, cabeza
capital (em todos os sentidos, riqueza assimilada a cabeças de gado)
cabedal
chefe
cabo (nos sentidos militar e geográfico)

c) O radical indo-europeu correspondente a uma ideia geral apresenta alternâncias fonéticas características das diferentes famílias linguísticas.
O radical que veio a dar em Latim o verbo sum apresenta as variantes
*es_ (grau e)
*os_ (grau o)
*s_ (grau zero -- não tem vogal)
o Latim reteve o grau e e o grau zero; dai as formas do verbo sum começarem por S ou E
o Grego reteve o grau o.
onto_, em Grego; ente, em Latim



TPC
Escrever frases com o vocabulário anterior





17 janeiro 2012

a.d. XVI Kal Feb (17 de Janeiro)

Die sexto decimo ante Kalendas Februarias - Martis dieou

Ante diem sextum decimum Kalendas Februarias

Nota:
Na primeira formulação, die sexto decimo está no ablativo, pelo que corresponde a
"no dia dezassete de Janeiro"
ou
"aos dezassete dias do mês de Janeiro"
usados no cabeçalho de uma carta.

Outras situações levariam a outros casos; por exemplo, para dizer
"antes do dia 17 de Janeiro", teríamos

ante diem sextum decimum ante calendas Februarias,

já que a preposição ante exige sempre o acusativo
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Efeméride:
Morte do imperador Teodósio, no ano 395.
Teodósio foi o último imperador a governar ao mesmo tempo o Império Romano do Ocidente (Roma) e o Império Romano do Oriente (Bizâncio ou Nova Roma (a partir de 330) ou Constantinopla (a partir de 337)

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Declinações

Clara regina (rainha ilustre)

clara regina clarae reginae
clara regina clarae reginae
claram reginam claras reginas
clarae reginae clararum reginarum
clarae reginae claris reginis
clara regina claris reginis

Notas:
clara significa "ilustre"
Em português ainda existe "preclaro" com esse sentido.
Em praeclarus o prefixo prae corresponde a um superlativo
Outros exemplos:
praepotens -- muito poderoso
praelucido -- muito brilhante
praeualens -- muito robusto (deu "prevalecente")
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parva insula (ilha pequena)

N parva insula parvae insulae
V parva insula parvae insulae
Ac parvam insulam parvas insulas
G parvae insulae parvarum insularum
D parvae insulae parvis insulis
Ab parva insula parvis insulis

Notas:
1) de insula provêm "ilha", por via popular, "insular" e derivados por via erudita;
provêm ainda "isolar" e seus derivados.
Ainda por via popular aparece "ínsua", ilha no meio de um rio

2) "península" vem directamente do latim peaeninsula; o prefixo paene tem o sentido de "quase"; a palavra latina quasi tem o sentido de"como se"

3) Em Roma chamava-se insulae a construções, normalmente em altura (três, quatro andares), onde habitavam pessoas de poucas posses. No Porto as "ilhas" são também conjuntos habitacionais de gente pobre, mas não em altura.

Curiosidade:
Roma já tinha um corpo de bombeiros organizado, os vigiles; uma das suas preocupações era que não se usasse o fogo dentro das insulae;

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prouida formica (formiga previdente)

N prouida formica prouidae formicae
V prouida formica prouidae formicae
Ac prouidam formicam prouidas formicas
G prouidae formicae prouidarum formicarum
D prouidae formicae prouidis formicis
Ab prouida formica prouidis formicis

pro_uida tem o sentido de "ver para a frente"
providens veio a dar, ainda no latim, prudens, prudente

Além de "formiga" e derivados, formica deu, por via erudita, "formicida", em vez de "formicicida", como seria natural: dá-se a queda de uma sílaba para evitar cacofonia.
Esse fenómeno chama-se haplologia (simplificação).

O mesmo acontece em bon(da)doso, cari(da)doso, etc

Caridade vem de caritas, via acusativo caritatem;
Dá-se a apócope do m final e a sonorização do t (oclusiva surda) simples (não dobrado) entre vogais. Esse fenómeno é recorrente na evolução do latim para o português.


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cicada pigra (cigarra preguiçosa)

N cicada pigra cicadae pigrae
V cicada pigra cicadae pigrae
Ac cicadam pigram cicadas pigras
G cicadae pigrae cicadarum pigrarum
D cicadae pigrae cicadis pigris
Ab cicada pigra cicadis pigris

O substantivo da família de pigra, pigritia deveria evoluir para português como "pegriça".
O vocábulo "preguiça" resulta da mudança de sílaba do r (metátese) para eliminar a dificuldade de articulação.
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rana inquieta (rã agitada)

N rana inquieta ranae inquietae
V rana inquieta ranae inquietae
Ac ranam inquietam ranas inquietas
G ranae inquietae ranarum inquietarum
D ranae inquietae ranis inquietis
Ab rana inquieta ranis inquietis

ranam --> rana --> rãa --> rã
apócope, sincope com nasalação, crase

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gallina insana (galinha tola)

N gallina insana gallinae insanae
V gallina insana gallinae insanae
Ac gallinam insanam gallinas insanas
G gallinae insanae gallinarum insanarum
D gallinae insanae gallinis insanis
Ab gallina insana gallinis insanis


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laboriosa aranea (aranha trabalhadora)

N laboriosa aranea laboriosae araneae
V laboriosa aranea laboriosae araneae
Ac laboriosam araneam laboriosas araneas
G laboriosae araneae laboriosarum aranearum
D laboriosae araneae laboriosis araneis
Ab laboriosa aranea laboriosis araneis

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alta ciconia (cegonha alta)

N alta ciconia altae ciconiae
V alta ciconia altae ciconiae
Ac altam ciconiam altas ciconias
G altae ciconiae altarum ciconiarum
D altae ciconiae altis ciconiis
Ab alta ciconia altis ciconiis

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capella impauida (cabrinha destemida)

N capella impauida capellae impauidae
V capella impauida capellae impauidae
Ac capellam impauidam capellas impauidas
G capellae impauidae capellarum impauidarum
D capellae impauidae capellis impauidis
Ab capella impauida capellis impauidis








11 janeiro 2012

a.d. IV Id Jan (10 de Janeiro)

Die quarto ante idus Januarias - Martis die

ou

Ante diem quartum idus Januarias

Nota: idus, como nonae e calendae, é feminino --donde Januarias


Efeméride do dia: César atravessa o Rubicão (49 AC)

A guerra civil que se seguiu, entre os partidos de César e Pompeio, durou três anos e acabou com a vitória de César após a batalha decisiva de Farsália.

Notas:
a) na frase alea jacta est, alea é nominativo singular (1ª declinação, feminino), embora se costume traduzir por "os dados";

b) Em geral as palavras da primeira declinação (tema em a) são femininas. Há várias excepções: agricola (lavrador), incola (habitante), poeta (poeta), nauta (marinheiro)...

Tema: radical + vogal temática
rosa -- *ros_ a

O tema em a da 1ª declinação chama-se tema puro, por não ter desinência no nominativo.

Notas:
a) No tema em a, a vogal final do nominativo e do vocativo singulares são breves enquanto a do ablativo é longa
b) A terminação em ae é sempre longa (ditongo)
c) o m final do acusativo singular (desinência) aparece em todas as declinações excepto o neutro dos temas em i ou u
d) a vogal final do acusativo plural é longa em todas as declinações excepto nas palavras neutras
e) o plural português vem do acusativo (caso etimológico)

Os adjectivos ditos da 1ª classe têm o feminino com tema em a
Ex: bonus, bona, bonum (masculino, feminino, neutro)

Os adjectivos declinam-se como os substantivos e concordam com o substantivo que qualificam:
Exemplos:

rosa rubra (rosa vermelha) declina-se:

N rosa rubra rosae rubrae
V rosa rubra rosae rubrae
Ac rosam rubram rosas rubras
G rosae rubrae rosarum rubrarum
D rosae rubrae rosis rubris
Ab rosa rubra rosis rubris

Nota: de rubra provém, além de rubro, rubor,... a palavra rubrica; rubrica terra era uma argila que servia para fabricar tinta vermelha usada para escrever títulos, cabeçalhos, etc.

Outro exemplo:
aurea corona (coroa de ouro) declina-se:

N aurea corona aureae coronae
V aurea corona aureae coronae
Ac auream coronam aureas coronas
G aureae coronae aurearum coronarum
D aureae coronae aureis coronis
Ab aurea corona aureis coronis

Da mesma forma se declinam:

clara regina (rainha ilustre)
parva insula (pequena ilha)
prouida formica (formiga previdente)
cicada pigra (cigarra preguiçosa)
rana inquieta (rã agitada)
gallina insana (galinha louca)
laboriosa aranea (aranha trabalhadora)
alta ciconia (cegonha alta)
capella impauida (cabrinha destemida)